“É preciso estar atento aos sinais, porque começa com pequenas coisas. Precisa dar carinho, muito carinho e aproveitar todos os momentos como se fossem os últimos. É doloroso porque nós sabemos que ele é o nosso pai, mas ele não sabe mais disso”. O relato é o de uma filha que convive com o Alzheimer há pelo menos sete anos. Junto com os irmãos, ela se reveza no cuidado do pai, seo José Francisco, de 85 anos e acamado há cinco, em decorrência da doença. A mãe, dona Gessi, de 84 anos, há dois também começou a ter a vida alterada por conta do Mal. “Meu pai chegou a se perder na cidade, bateu o carro várias vezes, foi perdendo o senso de localização. Outra mudança é que ele era muito sério, sistemático e ficou com outro humor, brincalhão, ria de tudo. Já a minha mãe, a gente percebeu que ela começou a não dar conta das tarefas de casa, a deixar a comida queimar. Com o tempo, tudo foi se agravando”, conta Maria Odete da Silva Souza.
A família é assistida pelo Serviço de Atenção Domiciliar – SAD. Periodicamente, a equipe multidisciplinar com assistente social, médico, técnicos de enfermagem, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogo, e nutricionista, visita o casal para o acompanhamento e a assistência necessária. “Antes do SAD vir, eles iam direto pra UPA. Meu pai chegou a ficar internado 15 dias, porque ele tinha muita pneumonia, agora não passamos mais por isso. É um trabalho maravilhoso, uma equipe maravilhosa. A gente agradece muito esse apoio e esse suporte que nós recebemos da Secretaria de Saúde”, declarou Maria de Fátima Gomes, outra filha do casal.
Mês Mundial
Setembro é o Mês Mundial da Doença de Alzheimer e o Dia Mundial da Doença de Alzheimer – 21. O objetivo é sensibilizar e conscientizar a população, entidades públicas e privadas de saúde, assim como profissionais das mais diversas áreas, sobre a importância do diagnóstico precoce e da prevenção. Demência é um nome coletivo para as síndromes cerebrais degenerativas progressivas que afetam a memória, pensamento, comportamento e emoção. A doença de Alzheimer e a demência vascular são os tipos mais comuns de demências, responsáveis por mais de 90% dos casos de demência. Os sintomas podem incluir: perda de memória, dificuldade em encontrar palavras ou compreender o que as pessoas dizem, dificuldade em desempenhar tarefas rotineiras prévias e mudanças na personalidade e humor. Não há cura, por isso o foco é a prevenção. O diagnóstico do caso ainda em um estágio de comprometimento cognitivo leve é fundamental. “Com o passar dos anos, temos uma queda no desenvolvimento de aprendizado e habilidades. O início deste processo é o que nós chamamos de momento de janela, ideal para adotar cuidados capazes de retardar esta perda. Mesmo famílias com forte fator genético podem retardar isso e prevenir o processo demencial”, alertou o neurologista Tiago Abreu e Souza. Ainda de acordo com o médico que atende no Ambulatório de Neurologia do Hospital da Zona Leste, várias são as medidas preventivas. “A gente percebe que há uma relação forte do nível de escolaridade com o Mal de Alzheimer e a maior parte dos nossos pacientes tem baixa escolaridade. Além disso, ter o hábito da leitura, aprender um novo idioma, praticar jogos como xadrez, dama, baralho, ou seja, o exercício intelectual previne a demência. A atividade física aeróbica também é recomendada. A alimentação é outro ponto importante. Uma dieta semelhante a do Mediterrâneo, com menos fritura, menos carne vermelha, com mais verduras, frutas, legumes e azeite extra-virgem é a ideal. Resumindo: atividade intelectual, atividade física e alimentação, associados, trazem mudanças nestes quadros iniciais. Há ainda resultados comprovados dos benefícios do ômega 3 e das vitaminas do complexo B”, explicou o especialista.
Atendimento
O Ambulatório de Neurologia do Hospital da Zona Leste atende a pacientes com suspeita de problemas de memória e cognição, para avaliação neurológica, exames e acompanhamento. Com o objetivo de diminuir o tempo de espera dos pacientes, o serviço funciona inclusive aos sábados. Neste, 28, são 16 consultas agendadas. Os encaminhamentos são feitos pelos postos de saúde. Tanto para acompanhamento neurológico, quanto para a assistência do SAD, o caminho é procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima de casa.