“É preciso ter esperança de que vai melhorar. Os remédios ajudam muito, o tratamento ajuda muito, mas ter esperança é muito importante”, para você que está lendo este texto agora, que está sofrendo algum tipo de transtorno ou que conhece alguém nesta situação, a fala da química e tradutora, Fabiana Ferrari Dias de 49 anos vem como um incentivo, como um exemplo de que é preciso não ter medo ou vergonha de buscar ajuda. Bater nesta tecla também é o objetivo do “Janeiro Branco 2020: precisamos falar sobre saúde mental”, tema que também representa um convite feito pela campanha que visa mobilizar sobre a importância de criação da cultura da saúde mental, com sensibilização de toda a sociedade para a necessidade deste cuidado. A finalidade é mobilizar o público em favor da saúde mental, mudando a compreensão que muitas vezes é cercada de tabus, apresentando a saúde mental como conceito de equilíbrio que proporciona bem-estar de forma ampliada, ao indivíduo e à sociedade.
Os Centros de Atenção Psicossocial
“O trabalho é reforçar a importância do cuidado com a saúde mental para uma qualidade de vida legal. Cuidamos do coração, cuidamos dos rins e de outros órgãos. Temos medo de ter um problema cardíaco ou uma doença como o câncer, mas ainda não nos preocupamos tanto com o nosso equilíbrio, com o nosso bem-estar psíquico, com a nossa saúde mental. E essa mentalidade, é esse entendimento que precisa ser construído, pela comunicação, pelos serviços de saúde e por campanhas como o Janeiro Branco”, alertou Stela Marys Baldon, terapeuta ocupacional e coordenadora do CAPS AD – Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas. O CAPS é uma importante porta de entrada para os pacientes que precisam de cuidados mais específicos. O local recebe encaminhamentos feitos por médicos, pelas escolas ou pela justiça, além de pacientes que procuram pelo serviço, por vontade própria. A equipe multidisciplinar tem psiquiatra, terapeuta ocupacional, enfermeiro e auxiliares de enfermagem, assistente social, psicólogo, instrutor e oficineiro. As atividades incluem acolhimento, grupos terapêuticos, oficinas de canto, poesia, yoga e artesanato, atendimento psicoterápico individual e acompanhamento das famílias dos pacientes.
Em Poços, além do CAPS AD, há o CAPS II Girassol. A assistente social e coordenadora do espaço, Cristina Gadelha Navarro Vieira, conta que têm notado a maior incidência de alguns tipos de transtornos, mas, em contrapartida, tem percebido a população mais consciente para a necessidade de cuidar da saúde da mente. “As pessoas têm se mostrado mais atentas, mais bem informadas e isso tem gerado uma procura maior pelos serviços, o que mostra que falar sempre é muito importante. Automutilações, tentativas de suicídio, ideações, stress, transtornos de ansiedade, intolerância à frustração e essa necessidade exacerbada de exibir uma vida perfeita e feliz nas redes sociais, tudo isso têm se mostrado com grande frequência nos nossos atendimentos. Saúde mental é prioridade. Ter um corpo dito perfeito, sarado, ter dinheiro, ter sucesso, tudo isso sem saúde mental, em um determinado momento passa a não fazer sentido e por isso antes de tudo, cuidar da saúde mental se faz tão importante”, avaliou Cristina.
Fabiana, que abriu esta reportagem com suas palavras motivacionais, é paciente do CAPS II Girassol desde o ano passado. “Eu tinha muitas dificuldades para dormir. Moro com a minha mãe e ela estava muito preocupada, a minha família sofre muito com isso”. No serviço, além dos pacientes, os familiares também são acompanhados. “Cada caso tem um projeto terapêutico específico que trabalha o projeto de vida da pessoa, sobre como lidar com as adversidades, com as perdas e com as frustrações. Então, aproveitando o ensejo da virada do ano, o Janeiro Branco vem lembrar a necessidade de trabalhar questões emocionais, de cultivar a saúde física e a saúde mental”, reforçou o psicólogo Sebastião Carlos Generozo, no CAPS II Girassol desde a implantação, há quase 12 anos.
A Rede de Atenção Psicossocial
Os locais de atendimento são espaços para gerar reflexão a respeito das nossas emoções, dos nossos relacionamentos, pensamentos e comportamentos, com o intuito de prevenir e tratar o adoecimento emocional. No município, CAPS II e CAPS AD integram a Rede de Atenção Psicossocial, também composta pelas unidades básicas de saúde, pelo NASF – Núcleo de Apoio de Saúde da Família e pelas equipes de ESF – Estratégia de Saúde da Família, pelos Núcleos de Especialidade, além do pronto atendimento do Hospital Margarita Morales, da UPA – Unidade de Pronto Atendimento, do Hospital Santa Lúcia e do SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. Durante todo o ano, são realizados debates, discussões, encontros e matriciamento junto aos profissionais de saúde, além de ações públicas dirigidas à sociedade em geral, no sentido de romper preconceitos e divulgar a Política da Reforma Psiquiátrica; que extinguiu os manicômios e criou equipamentos de tratamento humanizado; respeitando os direitos dos portadores de transtornos mentais e/ou dependência química.
Melhorias no Atendimento
Nos últimos anos, diversas ações têm trazido melhorias para a Rede de Atenção Psicossocial do município. Entre as medidas, estão: um novo local para atendimento do CAPS II Girassol, a abertura da Unidade de Acolhimento Infanto Juvenil e a ampliação da RAPS com novos serviços, conforme já adianta o secretário adjunto de Saúde, Flávio Togni de Lima e Silva. “O grande destaque do trabalho da Secretaria Municipal de Saúde no atendimento psicossocial se expressa na implantação gradativa do CAPS I para crianças e jovens com 18 anos incompletos, implantação essa a ser consolidada nos próximos meses, bem como o trabalho já executado em toda a Rede de Atenção Psicossocial, através do CAPS AD que é referência regional, do CAPS II Girassol que se encontra hoje instalado em uma área ampla, de acordo com as necessidades do serviço, sem deixar de falar da nossa Unidade de Acolhimento que, em breve, será ampliada para também receber crianças e jovens do sexo feminino, além do atendimento de excelência de toda a nossa Rede”.
“Essa campanha Janeiro Branco faz com que as políticas públicas reflitam seu papel perante o tratamento, dando cada vez mais suporte a quem necessita. É fundamental atender desde a porta de entrada, que é a Atenção Básica em um primeiro momento e quando necessário, com o encaminhamento para os serviços especializados. O mais importante é ter esse olhar diferenciado para a saúde mental, não esquecendo da importância da saúde do corpo, mas dando atenção também para a saúde da mente”, complementou a assistente social Heloísa de Moura Lessa Barroso, representante de Poços nos Colegiados Regional e Estadual de Saúde Mental.
Serviço
Atendimentos de saúde mental podem ser buscados nas unidades básicas de saúde ou diretamente nos CAPS II Girassol e AD. O CAPS II fica na Rua Ouro Preto, 156, Jardim dos Estados, com atendimento de segunda a sexta, das 7h às 17h. Já o CAPS AD funciona na Rua Paraíba, 200 e o atendimento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. Em todos os dias de atendimento, há acolhimento para novos pacientes. Não é necessário encaminhamento. Se você está precisando de atendimento, é só chegar, como fez a Fabiana. “Pra mim foi muito bom vir, eu estava me sentindo muito solitária, muito depressiva. Aqui no CAPS Girassol as pessoas são muito amigáveis, eu gosto muito daqui, tem feito bem pra mim”, finalizou a paciente que aceitou participar e ser identificada nesta reportagem, para fazer com que esta mensagem sensibilize mais e mais pessoas.