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Tradicional Retirada dos Caiapós do Mato marca encontro simbólico entre negros e indígenas, dentro dos festejos de São Benedito em Poços de Caldas

Teatralmente, a retirada representa o encontro de um grupo de caiapós com os ternos de Congo

Na ensolarada tarde deste sábado, 11 de maio, os caiapós se juntaram às celebrações dos festejos de São Benedito em Poços de Caldas. Foram chamados pelos Ternos de Congos e, avisados pela buzina de chifre, já sabem que é tempo de dança. A tradicionalíssima Retirada dos Caiapós do Mato, na Fonte dos Amores, marca o potente e simbólico encontro entre negros e indígenas – numa silenciosa cerimônia de estranhamento e acolhida – e compõe a tríade da programação cultural da Festa de São Benedito.

Teatralmente, a retirada representa o encontro de um grupo de caiapós com os ternos de Congo. Os caiapós ficam escondidos no meio da mata, camuflados entre as árvores, unem-se à paisagem, em total comunhão com a natureza. As crianças caiapós brincam. Então, surge Mestre Bucha, embaixador do Terno de Congo de São Benedito. Ele traz o fogo que assusta, mas também aquece e, ao final do embate, o cacique caiapó, Eduardo Ramos, em sinal de acolhida, troca seu cocar pelo chapéu adornado do congadeiro. “Essa troca significa igualdade”, conta Mestre Bucha.

A história representada relembra o momento em que os negros, em retribuição à acolhida dos índios durante suas fugas, vão até a mata para convidá-los para a Festa de São Benedito. A celebração é um dos momentos mais emocionantes e significativos da programação cultural da Festa de São Benedito.

De acordo com o Dossiê de Registro do Bem Imaterial Festa de São Benedito de Poços de Caldas, elaborado pela Divisão de Patrimônio Construído e Tombamento da Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento Urbano, “os Congos com seus tambores e demais instrumentos vão buscar os Caiapós que estão previamente escondidos na mata e levam-nos até a imagem de São Benedito”.

Em suas Memórias Históricas de Poços de Caldas, a historiadora, museóloga e folclorista grava o registro da manifestação como retirada dos caiapós “da mata” (p. 147). Já a pesquisadora Maria José de Souza, a Tita, em Reinado e Poder no Sul das Minas Gerais, registra como “Retirada dos Caiapós do mato” (p. 118), forma mais usual entre os congadeiros e caiapós.

O cacique caiapó, Eduardo Ramos

Após a “retirada”, os grupos de caiapós do bairro São José e da Vila Cruz seguiram à frente de um grande cortejo pelas ruas centrais da cidade, em direção à Capela de São Benedito, com seus arcos, flechas e espadas de pau, que batem para marcar o ritmo, seguidos pelos Ternos de Congos de São Benedito, Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia, Nossa Senhora do Carmo, Santa Bárbara e São Gerônimo e Nossa Senhora da Saúde.

“A retirada dos caiapós é um momento de grande emoção e força ancestral. Ficamos muito felizes com a grande participação do público e, especialmente, dos Ternos de Congos e Grupos de Caiapós, que mantêm viva essa rica manifestação da cultura tradicional de Poços de Caldas, que tanto fala sobre a nossa formação e sobre a nossa gente”, destaca o secretário municipal de Cultura, Gustavo Dutra.

A Retirada dos Caiapós integra a programação cultural da Festa de São Benedito, junto ao Dia de Santa Cruz (3 de maio) e às celebrações de 13 de maio, que incluem missa e procissão. A Secretaria Municipal de Cultura agradece a Citur pela cessão da Fonte dos Amores para a realização da tradicional manifestação.

A Prefeitura repassa anualmente à Associação dos Ternos de Congos e Caiapós de Poços de Caldas o total de R$ 75 mil, por meio de Termo de Cooperação, elaborado pela Secretaria Municipal de Governo e executado pela Secretaria Municipal de Cultura, para auxiliar na participação dos seis Ternos de Congos que fazem parte da associação e do Grupo de Caiapó do São José nos festejos ligados à Festa de São Benedito e também no Dia de São Benedito, em 5 de outubro. Além do secretário municipal de Cultura, Gustavo Dutra, o secretário municipal de Governo, Paulo Ney, também prestigiou a celebração.

A presidente da Associação do Ternos de Congos e Caiapós, Eduarda Carimbá, com os secretários municipais de Cultura, Gustavo Dutra, e de Governo, Paulo Ney

Dia do Caiapó
Celebrado pela primeira vez em 2022, 11 de maio foi escolhido como o “Dia Municipal do Caiapó”. A data foi instituída por meio da Lei 9.490, de 6 de outubro de 2021, substituída pela Lei no 9.620, de 24 de agosto de 2022, que dispõe sobre o calendário comemorativo e de eventos do município de Poços de Caldas, como forma de valorização da cultura popular e da memória de um de seus maiores expoentes, Seu Pedro Caiapó. Além da tradicional Retirada dos Caiapós da Mata um almoço festivo foi realizado no pátio da Capela de São Benedito.

Pedro Antônio Ramos – Pedro Caiapó – nasceu em 28 de dezembro de 1931 e faleceu em Poços de Caldas, no dia 15 de dezembro de 2013. Foi Tuxaua ou Morubichaba (chefe temporal) do Grupo de Caiapós por 40 anos e a tradição vem sendo lindamente mantida por sua família desde então, sob a organização de sua filha Maria Lúcia Ramos.

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